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O que é culto?


Essa é uma pergunta que, a um primeiro momento, parece muito óbvia no meio cristão. "Culto é o evento que reúne os irmãos em Cristo para adorar a Deus em plena comunhão com o Pai e uns com os outros", diria alguém instruído sobre práticas litúrgicas após uma breve olhada sobre a definição de culto em um dicionário bíblico, ou mesmo em um comum. Até pouco tempo atrás eu concordaria sem hesitar, muito pelo contrário, ficaria bastante admirado em ver outras pessoas buscando entender o sentido daquilo que pratica, ao contrário de muitos que, infelizmente, seguindo simplesmente o que lhes ensinam, não buscam entender o porquê de praticar aquilo o qual foram ensinadas.

Acontece que, como todos sabemos, toda a nossa vida deve ser fundamentada nas Escrituras Sagradas, e não deve ser diferente com o culto a Deus. O que a Palavra de Deus, portanto, nos revela sobre o que é o culto?

Bom, Paulo nos dá um indício norteador do que é o culto em sua carta aos Romanos, no capítulo 12 e verso 1:

"Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, QUE É o vosso culto racional".

Observe bem o trecho destacado. Paulo não está dizendo que o ato de apresentarmos o nosso corpo diante de Deus como sacrifício vivo, santo e agradável É UMA DAS formas de se cultuar a Deus. Ele está dizendo que isso simplesmente É o culto a Deus. Para entendermos melhor o que Paulo quis dizer ao afirmar isso, vou tentar responder a seguinte pergunta: o que seria especificamente esse ato de se apresentar a Deus como um sacrifício vivo, santo e agradável?

Para isso precisamos voltar ao Antigo Testamento para entendermos o que representava os sacrifícios a Deus. No livro de Levítico, do capítulo 1 ao capítulo 7, o Senhor transmite a Moisés todos os tipos de sacrifícios (também chamados de ofertas) que o povo deveria fazer para terem suas vidas limpas do pecado e da impureza e, portanto, andarem no caminho de Deus. Não vou me delongar, mas havia o holocausto (Lv 1); a oferta de manjares (Lv 2); a oferta pacífica (Lv 3); a oferta pelo pecado (Lv 4-5:13); a oferta pela culpa (Lv 5:14-6:7). O restante do capítulo 6 e 7 apresentam instruções adicionais sobre estas ofertas e sacrifícios. Sugiro uma leitura cuidadosa dessas passagens para entenderem mais profundamente a natureza dessas ofertas e sacrifícios.

De forma geral, sempre que o povo pecava ou ficava impuro, deveria oferecer sacrifícios de animais para expiação dos pecados e purificação da sua impureza. E sempre que o povo queria agradar a Deus, deveria oferecer ofertas a Ele, pois, como a oferta de manjares, possuía aroma agradável ao Senhor. O grande problema começa quando o povo de Deus passa a "mecanizar" tais práticas. Começaram a viver uma vida deliberada de pecado e ofereciam sacrifícios a Deus sem, contudo, se arrependerem genuinamente de coração.

Desta forma, como exemplo, tendo Saul desobedecido expressamente as ordens de Deus (1 Samuel 15:8-9) de exterminar totalmente os amalequitas e tudo o que possuíam (1 Samuel 15:3), quis oferecer ofertas de sacrifício ao Senhor pela desobediência com os despojos da guerra a qual não deveria haver despojos. O Senhor fala então a Saul por meio do profeta Samuel:

"Tem, porventura, o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra? Eis que obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros"

(1 Samuel 15:22).

Mais adiante, o Salmo 50:13-15 dirá: "Acaso como carne de touros ou bebo sangue de bodes? Ofereça a Deus em sacrifício a sua gratidão, cumpra os seus votos para com o Altíssimo, e clame a mim no dia da angústia; eu o livrarei, e você me honrará".

E o Salmo 51:17 destaca: "Os sacrifícios que agradam a Deus são um espírito quebrantado; um coração quebrantado e contrito, ó Deus, não desprezarás".

Em Provérbios 21:3 diz: "Fazer o que é justo e certo é mais aceitável ao Senhor do que oferecer sacrifícios".

Oséias também dirá no capítulo 6 e verso 6: "Pois desejo misericórdia e não sacrifícios; conhecimento de Deus em vez de holocaustos".



Percebemos que em todas as passagens citadas o Senhor está clamando ao Seu povo a praticar as suas ordenanças em vez de simplesmente sacrificarem animais para maquiar uma vida de desobediência consciente: obedecer à Sua Palavra, atender ao Seu chamado, oferecer gratidão, cumprir seus votos, clamar a Ele, possuir um espírito e coração quebrantados e contritos, fazer o que é justo e certo, ter misericórdia e desejar conhecer a Deus.

Agora, portanto, voltemos à passagem central deste post, a de Romanos 12:1: "Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, QUE É o vosso culto racional".

Agora podemos perceber claramente o que as palavras de Paulo querem dizer. Com uma analogia objetiva, ele está rogando a todos os cristãos que façam tudo aquilo que o Senhor disse nessas passagens citadas acima. Ele está exortando para que não façamos mais sacrifícios para expiar nossos pecados e apagar nossa desobediência, mas que, por meio da renúncia voluntária da nossa carne, dos nossos desejos e vontades, sejamos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. Que vivamos simplesmente em obediência ao Senhor, em vez de prestar sacrifícios que não têm poder de remover pecados (Hebreus 10:4), pois ISSO é cultuar a Deus.

Para consolidar este raciocínio de Paulo, observemos as palavras do Senhor Jesus:

"Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá, mas quem perder a sua vida por minha causa, a encontrará". Mateus 16:24-25

Com tudo isso que vimos aqui, podemos perceber, portanto, que culto é pura e simplesmente obediência diária a Deus. Nada se relaciona com o conceito dado no primeiro parágrafo deste post e por alguns dicionários bíblicos ou estudos teológicos, e não há sustentação bíblica para tal relação.

O culto é algo individual para Deus. É muito mais fácil e difícil do que um ajuntamento de pessoas em nome Dele. Fácil, porque uma vez tendo consciência do que é isso, passamos a enxergar muito mais facilmente a necessidade de obedecer a Deus a todo instante. Difícil, porque seria muito mais simples se cultuar a Deus fosse resumido apenas em participar semanalmente de reuniões.

Por fim, pode surgir na mente de vocês a ideia de que estou sugerindo que não precisamos dos nossos irmãos em Cristo para ser Igreja. De forma alguma, que seja anátema qualquer possibilidade de sugerir isso. O que estou fazendo aqui é uma diferenciação entre culto e reunião dos crentes/santos (a qual confundimos e chamamos erroneamente de culto). A reunião dos crentes possui outros propósitos que vão muito além do culto a Deus. Na verdade, a reunião dos santos só é possível quando, na vida diária e particular, cada cristão cultua a Deus. Mas este tema deixarei para o próximo post.

Espero que tenham sido edificados com esse post. Clamo ao Senhor para que o Espírito Santo abra o entendimento de vocês e os direcione a meditar acerca disso nas Escrituras Sagradas e a enxergar isso na vida prática cristã diária. Que Deus abençoe!

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"Não durmamos, pois, como os demais, mas vigiemos, e sejamos sóbrios". 1 Tessalonicenses 5:6

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