O Banquete: Êxodo
Faz alguns dias que eu terminei de ler o segundo livro das Escrituras Sagradas, Êxodo, mas não tive tempo para escrever sobre ele até então. Este será o segundo post de um conjunto que comporá a série O Banquete, destinada a falar sobre as minhas impressões de cada livro bíblico que eu ler no decorrer do tempo e de que forma eu pude me alimentar dele. Se você ainda não leu o primeiro capítulo da série sobre Gênesis, clique aqui. Espero que possa ser útil para a vida de muitas pessoas e que possa estimulá-las a enxergarem as Escrituras Sagradas como um banquete o qual possam dele se alimentar de graça e a qualquer tempo. Entender a importância da leitura e meditação na Palavra de Deus é imprescindível para quem deseja não se desviar da Verdade e, acima de tudo, conhecer ao Senhor.
Êxodo era pra mim um livro que me proporcionava uma dupla sensação: a de fascínio e a de preguiça.
Fascínio pois é uma das partes da Bíblia onde o poder de Deus se revela de forma mais impressionante aos olhos humanos. E preguiça porque era muito extenso e passava a falar de coisas que eu não tinha o mínimo interesse para tentar entender. Eu sempre lia só até a parte em que Moisés e o povo de Deus conseguiram sair do Egito e depois desistia de ler o resto por considerar muito cansativo. Todavia, quando passei a enxergá-lo como um livro do qual eu poderia me alimentar de algo novo, que eu ainda não tinha consumido nas Escrituras, as coisas mudaram.
São 40 capítulos de imensas surpresas e reflexões. Podemos perceber do início ao fim o Senhor Deus demonstrando o Seu poder e Sua soberania diante do homem. Na primeira parte, onde apresenta a escravização do povo eleito, vemos um Deus meticuloso e que preparava tudo para a libertação de seus escolhidos. Ele preparou um menino hebreu que foi criado dentro da corte egípcia, conhecido por Faraó, para liderar: Moisés. Um rapaz que, com certeza, recebeu a melhor educação do mundo por ter sido adotado pela filha do rei. De outro lado vemos um outro personagem importante que se desenvolve dentre os próprios hebreus escravizados, Arão, para auxiliar Moisés. Penso que Ele continua fazendo isso nos dias de hoje. Ele continua preparando pessoas para executarem Seus planos extraordinários na Terra. De onde menos esperamos Ele é capaz de, pacientemente, preparar, lapidar e cuidar para agir no momento propício. Ainda nesta parte, percebemos também o propósito do Senhor de se mostrar aos homens como acima de tudo e de todos, inclusive daquilo que os pagãos faziam por deuses em suas vidas. Como é incrível os pequenos detalhes em que Deus prevê o endurecimento voluntário do coração do Faraó e, em contraposição, Ele próprio endurecendo o coração do líder egípcio para que Seu poder se manifestasse ainda mais. A visão das pragas e, por fim, da grandiosidade do mar se abrindo para o povo passar dispensa comentários. O perfeito triunfo e majestade do Senhor se revelando de maneira apoteótica.
Na segunda parte percebemos um Deus zeloso, que provia todas as necessidades básicas de Seu povo e que também se mostrava longânimo, apesar de toda a murmuração dos hebreus no deserto. É impressionante como um povo ainda consegue murmurar mesmo depois de presenciar tantas maravilhas do Todo-Poderoso, mesmo depois de serem libertos de um jugo de escravidão secular. Pois hoje nós fazemos o mesmo. Ele nos agracia todos os dias com Suas maravilhas em nossas vidas, nos sustentando mesmo em meio às adversidades, nos presenteando com Seus dons e virtudes, mas deixamos os problemas bloquearem a nossa visão.
A terceira parte foi a que eu menos esperava me surpreender, mas que, no entanto, foi a que eu fiquei mais fascinado. No capítulo 19 o Senhor expõe Sua predileção pelo povo de Israel dentre todas as nações do mundo: "Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha; vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa." (Êxodo 19:5-6a). Hoje sabemos que esta promessa se estendeu a todos nós cristãos gentios e cristãos judeus, sendo não mais uma nação eleita, mas um povo escolhido proveniente de todas as nações do mundo. Hoje todos nós que compartilhamos da mesma fé em Cristo somos propriedade peculiar do Senhor e sacerdotes do Altíssimo. Sacerdotes que ligam o mundo a Deus enquanto Igreja. Mas o ponto central dessa parte é que Israel só seria uma propriedade especial do Senhor se ela obedecesse a Ele, como o verso 5 nos mostra. Após isso, Deus revela a Moisés o conjunto de leis o qual o Seu povo se submeteria, das quais se destaca os Dez Mandamentos. E este é um assunto que merece um post à parte — a relação entre as leis dadas a uma nação específica que foi escolhida por Deus e o que muda quando, após a vinda de Cristo, têm-se um povo escolhido proveniente de todas as nações do mundo.
Na última parte vemos um Deus interessado em habitar no meio do Seu povo e que, porém, é insultado quando os hebreus — mesmo diante de tantas maravilhas realizadas por Ele — levantam um bezerro de ouro para adorarem no lugar do Altíssimo. Mas também vemos um Deus misericordioso, que pelo clamor de Seu servo Moisés, oferece perdão ao povo: "Disse mais o Senhor a Moisés: Tenho visto este povo, e eis que é povo de dura cerviz. Agora, pois, deixa-me, para que se acenda contra eles o meu furor, e eu os consuma; e de ti farei uma grande nação. Porém Moisés suplicou ao Senhor, seu Deus (...)". (Êxodo 32:9-11a). O que seria de nós se não tivéssemos Cristo como Mediador entre nós e o Pai para nos livrar da ira de Deus? Estaríamos consumidos e justamente condenados!
Com todo o cuidado e perfeição, o Senhor comanda o povo na construção do Tabernáculo. Cada utensílio milimetricamente calculado! O que mais me chamou a atenção foi o fato de a maior parte dos objetos serem revestidos de ouro, prata ou bronze, de modo que não viessem a se corromper com fogo, tempo ou traça. Após um longo e acurado trabalho de construção, com o Tabernáculo construído, o livro de Êxodo termina com a maravilhosa manifestação da glória de Deus enchendo o interior desse lugar. Hoje o Tabernáculo é o Corpo de Cristo, a Igreja, e cada um de nós somos instrumentos revestidos pelo sangue de Jesus a fim de não sermos corrompidos e nem degradados pelas forças malignas deste mundo. Hoje, a Arca da Aliança é o nosso coração, o lugar que guarda o Testemunho — as Leis — de Deus. Se antes a Sua glória preenchia o Tabernáculo, hoje o Seu Espírito preenche a Sua Igreja. O sacrifício que queima sobre o altar é a nossa própria vida que ofertamos de bom grado ao Senhor.
Que possamos ser a cada dia enquanto Igreja, habitação de Deus, reino de sacerdotes, propriedade peculiar do Senhor, nação santa, testemunho vivo e fiel, vidas que se ofertam, com amor, como sacrifício vivaz e vivificante. Este é o desejo do Pai para nós por meio do Filho! Amém.
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