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O Espírito e o fantasma


Este é um post que há muito tempo eu queria escrever, sem, contudo, ter maturidade o suficiente para dissertar e argumentar. Tenho para mim que este dia chegou e com bastante urgência. O "Espírito e o fantasma" é uma metáfora, sendo o Espírito a representação do Espírito Santo de Deus e o Fantasma a representação daquilo que se acredita ser o Espírito Santo.

A ruptura da Modernidade com o Medievalismo foi marcada por uma mudança de pensamento profunda entre os dois períodos. A Modernidade foi introduzida com a ascensão do Empirismo como única ferramenta legítima de interpretação da realidade, desta forma, tudo aquilo que não pode ser provado, experimentado ou observado simplesmente não existe. Os empiristas acreditam que nossas ideias e tudo aquilo que pode ser considerado como verdadeiro e concreto vêm unicamente da experiência sensorial, ou seja, que fazem uso dos nossos cinco sentidos: tato, olfato, paladar, audição e visão. Se o objeto de estudo específico não pode ser experimentado por pelo menos um desses sentidos, então é improvável que ele exista de fato. As Ciências Naturais adotaram esse postulado e, desde então, o propagou ao longo dos anos até que fosse pulverizado e disseminado em todas as esferas da sociedade e alcançasse, inclusive, o núcleo do pensamento humano — a Igreja, infelizmente, não se livrou dessa realidade.

A história da Igreja é marcada por diversos movimentos, alguns promovidos pelo Espírito Santo, porém, outros promovidos pela própria vontade humana, meio pelo qual o Fantasma surge e atua. A partir do século XX temos o surgimento do movimento pentecostalista nos Estados Unidos evidenciado pela ênfase na busca incessante pelos dons espirituais, em especial o dom de línguas, e pelo avivamento. Agregado à busca dos dons, o pentecostalismo introduziu a busca pela presença do Espírito Santo manifestada pelo extravasamento das emoções como sinônimo de liberdade em Cristo e de evidência em si mesmo da presença Dele. A partir dessa nova realidade, vieram ao longo de todo o século XX alguns movimentos facilmente identificáveis como a Teologia da Cura, a partir da década de 60, tendo a operação de milagres e sinais como o núcleo da fé cristã e da obra evangelística; a Teologia da Prosperidade, cuja visão é a de que Cristo morreu para que pudéssemos desfrutar das bençãos terrenas prometidas a Israel e que, agora, herdamos por sermos a Israel espiritual; e, atualmente, uma Teologia da Prosperidade Emocional, marcada por um tipo de Coaching Religioso, com a volta da busca por Avivamento, em que o foco se encontra na cura de feridas da alma promovida por uma (super)valorização da figura humana diante da sua relação com Deus. Vale lembrar que estes movimentos históricos não foram substituindo consecutivamente um ao outro, mas se sobrepondo, ou seja, eles coexistem dentro das congregações.

A realidade é que todos esses movimentos possuem algo em comum, e é o fato de que todos estão focados na busca do homem em fundamentar a sua fé em alguma experiência sensorial. A busca por sinais miraculosos, a busca por bençãos terrenas (no lugar das bençãos eternas e espirituais guardadas no Reino de Deus), o extravasamento emocional como sinônimo da presença do Espírito Santo, tudo isso reflete uma mentalidade empirista que, se outrora era exclusividade do mundo, agora, entretanto, se encontra mais atuante do que nunca dentro da Igreja. Desta forma, aquilo que se acredita ser ação do Espírito Santo nada mais é do que ação do Fantasma, ou, em outras palavras, do pensamento empirista — ou ainda, do espírito de engano — se disfarçando de "anjo de luz". E digo isto porque a presença do Espírito Santo no meio do Seu povo é muito mais do que milagres, ou bênçãos, ou ainda lágrimas, gritos e arrepios.

Vejamos o que as Escrituras dizem sobre a pessoa do Espírito Santo e o seu papel:

 

Tenho-vos dito isto, estando convosco. Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.

João 14:25-26.

 

"No entanto, quando o Espírito da verdade vier, Ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos revelará tudo o que está por vir. O Espírito me glorificará, porque receberá do que é meu e vos anunciará."

João 16:13-14.

 

"Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio."

Gálatas 5:22-23.

 

E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E aquele que examina os corações sabe qual é a intenção do Espírito; e é ele que segundo Deus intercede pelos santos.”

Romanos 8:26-27.

 

O Espírito Santo é, portanto, o Espírito do Pai, enviado em nome de Cristo para glorificar o Filho e anunciá-Lo a todos os povos. Onde Ele está, Cristo é sempre o centro. Ele é o Consolador e Aquele que nos ensina e nos faz lembrar de todas as coisas. Ele é o Espírito que revela e manifesta a verdade e nos guia nela. A presença do Santo Espírito produz em nós o amor a Deus acima de todas as coisas e ao nosso próximo assim como Cristo nos amou, produz alegria mesmo em meio a dores, produz a paz que excede todo entendimento humano e que o mundo é incapaz de conhecer, a paciência mediante àqueles ou àquilo que traz a irritação, a amabilidade que constrange a violência, a bondade que reluz na escuridão de um mundo que jaz no Maligno e na maldade, a fidelidade diante da possibilidade da traição a Deus ou ao próximo originada do pecado, a mansidão diante do furor e o domínio próprio sobre todo desejo da carne. É Ele quem conhece os nossos corações e nos auxilia nas fraquezas, tornando-nos fortes Nele. Tudo isso são características de quem o Espírito Santo é e do que Ele faz. E tudo o que Ele faz acontece em um processo de transformação de dentro para fora, do nosso interior invisível que somente Ele e nós conhecemos, ao nosso exterior visível, que os outros também podem ver. Como Jesus disse:

 

"Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, fornicação, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias. São estas coisas que contaminam o homem."

Mateus 15:19-20

 

A verdadeira presença do Espírito Santo promove a transformação, primeiramente, do coração, numa demonstração de ataque direto à fonte de iniquidade dentro de nós. A Sua presença é sempre transformadora e sempre voltada para que, uma vez transformado ou em transformação, possamos glorificar a Cristo. O Espírito Santo sempre coloca a Cristo no centro de tudo ao nos levar a reconhecer o senhorio de Jesus sobre as nossas vidas mediante a nossa incapacidade de nos santificarmos sozinhos e de Sua obra salvífica por nós.

O Fantasma — ou espírito de engano —, ainda que busque se passar pelo Espírito, não pode se equiparar a Ele. O seu disfarce é eficaz apenas sobre todo aquele que tem prazer na injustiça e não se apraz na verdade (2 Ts 2:10-12). É muito dura a verdade de que a fé não está firmada nos sentidos ou nas aparências e nem todos estão dispostos a se esforçarem a entender e conviver com isso. Vejamos o que diz o apóstolo Paulo e o autor de Hebreus sobre isso:

 

"Pois foi por meio da esperança que fomos salvos. Mas, se já estamos vendo aquilo que esperamos, então isso não é mais uma esperança. Pois quem é que fica esperando por alguma coisa que está vendo? Porém, se estamos esperando alguma coisa que ainda não podemos ver, então esperamos com paciência."

Romanos 8:24-25.

 

"Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos."

Hebreus 11:1

 

"Depois disse a Tomé: Põe aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; e chega a tua mão, e põe-na no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente. E Tomé respondeu, e disse-lhe: Senhor meu, e Deus meu! Disse-lhe Jesus: Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram." João 20:27-29

 

Fiz essa longa exposição para chegar a uma reflexão: se tudo aquilo que dizemos ser reflexo da presença do Espírito Santo não trouxer, de fato, transformação, então nada mais é do que a atuação do Fantasma. As muitas visões e revelações, os muitos milagres e prodígios, as muitas bênçãos conquistadas nesta terra ou as muitas lágrimas e arrepios não são um indício da presença do Espírito Santo se tudo isso não refletir em uma mudança do nosso coração, pois é dele que flui toda transgressão contra Deus. O Espírito se manifesta no ato de atacar as fontes de iniquidade dentro de nós a fim de extingui-las, o Fantasma se manifesta no ato de proteger as fontes de iniquidade de todo ataque divino. O Espírito busca nos livrar de nós mesmos, o Fantasma busca nos prender em nós mesmos, fazendo com que ajuntemos para nós falsos mestres dispostos a pregar aquilo que agrada ao nosso coração. O Espírito sempre inclina os nossos corações à servidão ao Senhor, o Fantasma sempre inclina os corações a ousar fazer de Deus o nosso servo. O Fantasma conduz todos aqueles dispostos a serem guiados por ele por uma estrada em direção ao inferno que, ademais, está recheada de placas no meio do caminho indicando que aquele é o caminho para o céu, e de quebra-molas e curvas sinuosas para dar a falsa impressão de que aquele é um caminho difícil de ser trilhado e que, portanto, é o caminho estreito pregado por Cristo. Ele proporciona uma ida ao inferno cercado de todos os elementos que os nossos sentidos consideram como sendo santos.

É por esta razão que hoje nós temos uma Igreja com o maior número de crentes ao redor do mundo em toda a sua história e poderosa socialmente e que, no entanto, é fraca do ponto de vista espiritual. Temos uma Igreja que, por meio de suas congregações, busca experiências sensoriais sob o pretexto de querer ser mais íntima de Deus, mas que não se dá conta de que a fé que busca — e a qual sem ela é impossível agradar a Deus (Hb 11:6) — não pode ser fundamentada naquilo que pode ser visto, ouvido, experimentado, tocado ou sentido. Pelo contrário, temos uma Igreja que não percebe que quanto mais busca ter uma intimidade com Deus por meio dos sentidos, e não fundamentalmente por meio da fé, mais corrobora com uma tendência empirista o qual este mundo está fundamentado. Por fim, quero destacar que não estou dizendo que o Senhor não pode ou não se manifesta perante nós sob as nossas faculdades sensoriais, porque na verdade ele PODE e FAZ, mas que as Escrituras nos dizem que Ele é espírito (João 4:24) e, sendo Ele espírito, está muito além do que nossos limitados e enganosos sentidos podem nos revelar. A adoração a Deus se dá em espírito e em verdade (João 4:23).

A fé é o principal e único meio pelo qual temos a salvação porque tudo o que está contido nela não pode ser adulterado, corrompido ou modificado. Cremos que Jesus morreu e ressuscitou e ponto! Cremos que Ele voltará para nos buscar e ponto! Nada disso podemos provar conforme os parâmetros dos nossos sentidos, mas é o que nós cremos. Tomé precisou tocar em Cristo para crer que Ele havia ressuscitado. A sua crença estava fundamentada em seus sentidos, não na fé segundo nos apresenta Hebreus 11:1. Sendo assim, se somos capazes de ver/sentir aquilo que esperamos, então não se trata mais de esperança, não se trata mais de fé, pois a fé é a convicção e prova daquilo que não vemos, mas cremos e esperamos. Os nossos sentidos são o campo preferido no qual o Fantasma, ou espírito de engano, atua. Uma vez que temos nossos sentidos como base para crermos em Cristo, estamos suscetíveis às ilusões construídas pelo Fantasma para, desta forma, orquestrar os nossos sentidos ao caminho que ele quer que trilhemos. Um caminho bem longe do Espírito Santo, de Cristo e de Deus Pai, certamente.

Em nome de Jesus eu oro ao Pai por meio do Espírito Santo para que esta realidade não recaia ou permaneça sobre nós. Àqueles que leem este texto e que percebem que se encontram nesta condição até este momento, que possam a partir de agora terem o entendimento iluminado pelo Espírito Santo e serem conduzidos num caminho de fé verdadeira e sólida, tendo a Palavra de Deus como lâmpada para os pés e luz para o caminho. Amém!

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"Não durmamos, pois, como os demais, mas vigiemos, e sejamos sóbrios". 1 Tessalonicenses 5:6

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